Podemos dizer que Arte e Psicanálise tiveram o seu primeiro encontro no final do século XIX e início do século XX. Nesse período partilharam de um mesmo questionamento crítico da época, um mesmo pano de fundo cultural, que aponta para o lugar do sujeito como agente da representação, no sentido de ser capaz de exercer a representação com um novo tipo de abordagem subjetiva. Nesse mesmo momento Freud escreve os Estudos sobre a Histeria e publica o livro juntamente com Breuer e, nessas mesmas semanas, acontece a primeira exibição pública e paga do Cinematrógrafo de Paris. Podemos dizer nesse sentido que existe uma contemporaneidade entre Cinema, Psicanaálise e Arte Moderna. Posteriormente temos o surgimento nas artes do Surrealismo, movimento ao qual interessa o inconsciente freudiano como uma espécie de potência de criação de imagens não convencionais, de imagens muitas vezes discrepantes, a maneira do trabalho do sonho, onde metáforas e metonímias apontam para a revelação de mensagens cifradas, de desejos velados, que já não mais se enquadram nas regras acadêmicas simbólicas já estabelecidas. Lacan por exemplo, sofreu uma grande influência do surrealismo, de onde extraiu o caminho para a primazia do significante, uma vez que a partir do uso da escrita automática inspirada na associação livre, o significado passa a perder potência em relação ao significante. O surrealismo era uma das vanguardas mais importantes no início do século XX. Estava alí o entrelaçamento de buscas entre a psicanálise e as vanguardas artísticas do início desse referido século. A imagem e a palavra no cinema também fazia relação com o sonho e a psicanálise, enquanto interventora, a partir de um lugar de uma teoria crítica da imagem, de uma imagem enquanto ilusória, ortopédica e também a lienante. Freud vai buscar na arte os elementos para elaborar a sua teoria, como por exemplo, privilegiando entre os seus escritos, o artista Leonardo da Vinci ou buscando na Gradiva de Jeansen, uma fronte possível para se pensar a fantasia, esse importante conceito psicanalítico. O diálogo com a arte continua como uma espécie de inspiração de uma teoria viva sempre a se refazer, uma vez que cada artista traz algo de singular, que lhe é próprio, mas não sem a dimensão de um traço que se transmite e faz laço social.